Cercado de simbolismo, janeiro pode ser um mês motivador. Na mitologia, Janus é o deus que representa a passagem do antigo para o novo; é um deus de duas faces, uma olha para o passado e a outra para o futuro. Ele dá também o nome ao mês de janeiro que representa o início de um novo ano, de uma nova era.
Por isso, o primeiro mês do calendário gregoriano traz em si a esperança de novos recomeços e a expectativa de que dias melhores virão. Nessa perspectiva, acontece o Janeiro Branco, que destaca a importância dos cuidados com a saúde mental. Inspirada nos sentimentos positivos que estão presentes na virada do ano, a campanha nos faz refletir sobre nossas vidas, relações sociais e emoções, alertando para a necessidade de estarmos atentos e cuidadosos com os assuntos relacionados à cabeça. Em situação de pandemia, é preciso que estejamos mais atentos ainda.
No Movimento Mamamiga pela Vida, o cuidado com a saúde emocional das pacientes em tratamento oncológico foi intensificado. No início de 2020, com a chegada da pandemia, a psicóloga e voluntária Kamilla Santana percebeu que a diminuição do convívio social poderia ser prejudicial para as Assistidas. Sirlene, uma das mulheres assistidas pela ASPRECAM expôs em uma conversa que estava sentindo bastante o impacto da solidão, que procurava ler, ouvir música e conversar com os parentes mais próximos, mas, nem sempre, isso era suficiente para amenizar a solidão. Daí, surgiu a ideia de um encontro semanal, realizado de forma on-line, momento em que as mulheres pudessem falar de suas angústias e dividir suas experiências umas com as outras.
Para Kamilla, a vivência do outro é muito importante para o crescimento individual. “A Sala de Escuta para as Assistidas passou a ser um mecanismo que sustenta a saúde mental das participantes, mesmo que ocorra de forma on-line. As Assistidas falam de suas dificuldades e vitórias e isso é uma ação importante no tratamento do câncer de mama. A experiência é tão intensa que eu também cresço. Sou impactada pelas trocas que acontecem no grupo, mesmo que não seja uma mulher com diagnóstico ou em tratamento para o câncer de mama”, pondera Kamilla. Ela ainda ressalta que, no atual cenário de incertezas em que vivemos, é muito importante fortalecer, dentro das ações do movimento Mamamiga pela Vida, o projeto da Sala de Escuta, como forma de alcançar o equilíbrio mental.
O projeto Sala de Escuta coloca a saúde mental em foco permanentemente. São encontros informais e virtuais que reúnem as Assistidas para tratarem de temas diversos relacionados ao universo feminino e às experiências de cada uma, além de compartilhar vivências que, muitas vezes, se tornam objeto de identificação e proximidade.
Elenice, também assistida pela ASPRECAM, participa das reuniões do projeto Sala de Escuta e conta que a fé é essencial quando o assunto é cuidar da saúde mental. “Diante de tudo que passei no tratamento do câncer, seguido de uma pandemia assustadora, para manter minha saúde mental eu procurei e procuro sempre estar em oração. Evitei acompanhar algumas notícias, não por ser omissa, mas para que eu não desanimasse e ficasse com medo. Coloco louvores bem baixinho no celular e rezo com muita fé, procuro fazer a técnica da respiração, o que me ajuda muito”, conta Elenice.
Maria Eduarda, outra assistida pela ASPRECAM, está sempre atenta à sua saúde mental e adora os encontros da sala de escuta: “Eu me ocupo a minha mente cuidando dos “meus pequenos grandes aprendizes” eles me dão uma alegria incrível e preenchem a minha mente com alegria”. Já a Rosemira, assistida pela ASPRECAM, decidiu cortar situações que podem entristecer ou causar angústia: “Eu procuro não me envolver com notícias nem novelas. Prefiro o ponto-cruz” revela animada. Brincar com os filhos e fazer as unhas são felicidades da rotina de Érika, assistida pela ASPRECAM. A meditação ajuda Cristiane, também assistida pela ASPRECAM, a se acalmar e a encarar as dificuldades.
“A saúde mental depende de um cuidado permanente e vejo que todas essas iniciativas dessas pacientes para estarem bem vêm de uma educação emocional. Precisamos nos conhecer e ir nos reconhecendo ao longo da vida, para que consigamos enfrentar os desafios emocionais não apenas nas campanhas de Janeiro Branco. Dificuldades temos todos os meses. Na sala de escuta, eu me sinto como uma ponte, parte do processo de aprendizado dessas mulheres. Mesmo sem os encontros presenciais, sem o abraço gostoso, essa experiência ressalta a importância da escuta ativa, da existência de um espaço onde o relato do outro é aceito, trazendo, ao final, o alívio e o conforto para as participantes, dentro de um ambiente saudável e acolhedor”. Finaliza Kamilla.