Quando o ciclo reprodutivo feminino chega ao fim, é comum o surgimento de vários sintomas associados à diminuição da produção de hormônios, como calores intensos, irritabilidade, perda de libido e dores de cabeça. Para atenuar a intensidade desses efeitos, a terapia de reposição hormonal propõe a administração de hormônios (estrogênio e progesterona) em forma de comprimidos, adesivos ou géis com o objetivo de equilibrar o nível hormonal e garantir mais conforto para a mulher.
Durante muito tempo, a terapia de reposição hormonal foi largamente utilizada para auxiliar mulheres durante o climatério. Porém, estudos realizados em 2003 e 2007 confirmaram que existe uma associação entre a administração de terapia de reposição hormonal e o aumento da ocorrência de câncer de mama, de ovário e de útero. Essa descoberta mudou a forma como a reposição hormonal é indicada atualmente para pacientes do sexo feminino após a menopausa.
E quando a mulher já teve câncer de mama, ovário ou útero, a reposição hormonal é indicada?
“Os estudos mais recentes indicam, por unanimidade, que a reposição hormonal oral com estrogênio e progesterona não deve ser indicada para essas pacientes. Mesmo para aquelas pacientes de câncer de mama com receptores pela imunoistoquímica triplo negativos”. Quem afirma é a ginecologista Alessandra Duarte Clarizia, doutora em câncer de mama, com pós-doutorado em Saúde da Mulher, professora e coordenadora do Núcleo de Saúde da Mulher do curso de medicina da FAMINAS-BH.
Apesar da restrição do uso de estrógeno e progesterona, a Dra. Alessandra explica que não podemos nos esquecer da testosterona, um hormônio também importante para nós, mulheres. A testosterona pode ser reposta pela via transdérmica (forma de gel) ou vaginal em casos muito específicos. Estudos mostram o seu uso, por exemplo, para melhorar o ressecamento vaginal e dar à mulher mais conforto para retomar a vida sexual. Nesses casos, o acompanhamento do ginecologista e do oncologista é fundamental.
A importância de as mulheres manterem hábitos saudáveis
Alessandra Clarizia reforça que uma alimentação saudável e atividade física regular promovem a liberação de vários fatores endógenos que protegem contra várias comorbidades e que mitigam o risco da recorrência do câncer ginecológico, além de atenuar os sintomas do climatério. A prática do Reiki, massagem por shiatsu, ioga, acupuntura e meditação são bem interessantes e podem trazer benefícios às pacientes.
Para contornar os fogachos, podem ser utilizados alguns tipos de antidepressivos em doses baixas. O avanço da tecnologia também proporciona o tratamento da síndrome urogenital por meio de radiofrequência íntima, fotobiomodulação íntima e lasers Erbium e CO2. São tecnologias indolores e trazem melhora clínica importante, porque eliminam os sintomas do ressecamento vulvovaginal, as infecções de urina de repetição e também dos quadros leves de incontinência urinária.
Dra. Alessandra finaliza com um recado muito importante: “O que não podemos aceitar, em pleno 2022, é que a paciente com histórico oncológico tenha que conviver com todos esses sintomas. Toda paciente merece ter longevidade com qualidade de vida após o câncer. E nós, ginecologistas, podemos ajudá-las!”.