Câncer de mama e cuidados paliativos: a importância de estar bem hoje, aqui e agora

“Eu tento levar a vida como todo mundo deveria, como se só existisse o hoje. Não faço planos para amanhã ou para o próximo mês, o que me interessa é o hoje, e é isso aí”. Essa frase, que poderia estampar uma camiseta, é de Núria Rodrigues da Silva, de 44 anos. Ela trabalha como artesã e é assistida pelo grupo Mamamiga pela Vida. Núria recebeu o diagnóstico de câncer de mama em junho de 2018. O momento do diagnóstico foi dramático e a cirurgia aconteceu cerca de 30 dias depois. A quimioterapia começou logo após a cirurgia e, em novembro do mesmo ano, Núria foi informada de que estava com uma metástase no pulmão. Naquele momento, ela soube também, por intermédio de seu médico, que a cirurgia para remover o câncer no pulmão não era possível e que, a partir daquele momento, o tratamento seria paliativo.

De acordo com a médica Sarah Ananda, líder de cuidados paliativos do Grupo Oncoclínicas e membro do corpo clínico do hospital Felício Rocho, cuidados paliativos é uma abordagem que tem como objetivo dar assistência e contribuir para a melhoria da qualidade de vida de pacientes que estão diante de doenças que ameaçam suas vidas, assim como a de seus familiares.  “Paliare, no latim, significa acolher e proteger, o que tem tudo a ver com o conceito de cuidados paliativos. As práticas adotadas pela equipe multidisciplinar de cuidados paliativos são a prevenção e alívio do sofrimento por meio de identificação precoce, avaliação e tratamento de dor e demais sintomas físicos sociais, psicológicos e espirituais. A equipe deve ser composta, no mínimo, por um médico, enfermeiro, psicólogo e assistente social. Porém, muitas outras especialidades são tão importantes quanto por meio da soma de outros olhares e percepções. É essencial entender a história do paciente para que ele possa ser assistido em todas as esferas”, explica  Drª Sarah.

O conceito de cuidados paliativos foi definido pela Organização Mundial da Saúde em 1990 e, posteriormente, atualizado em 2002. Hoje, a especialidade está presente na maioria dos hospitais de referência do país e é reconhecida por sua importância no tratamento de doenças como câncer, doenças pulmonares e cardíacas.

Meu tratamento será paliativo, e agora?

Receber a notícia de que um tratamento de saúde será focado no alívio da dor e dos sintomas e não na cura pode ser difícil para a maioria dos pacientes. Nesse momento, cuidar do lado psicológico e da espiritualidade é essencial. “Saber que meu tratamento seria paliativo, este foi outro momento muito difícil. Pra mim, foi muito triste. Sempre que vejo as pessoas cheias de esperança, tocando o sino na Santa Casa, comemorando o fim do tratamento, eu penso que isso não será possível no meu caso. A não ser que Deus queira”, revela Núria.

Erika Pereira dos Santos, 29 anos, foi diagnosticada com câncer de mama em outubro de 2019, após descobrir um nódulo enquanto amamentava o filho mais novo. Ela começou o tratamento em janeiro de 2020 e soube, em novembro do mesmo ano, que estava com uma metástase pulmonar. Erika conta que, no primeiro diagnóstico, colocou na cabeça que faria o tratamento, ficaria careca, passaria por todo o processo e que aquilo iria acabar. “Quando eu soube da metástase e que o tratamento seria paliativo, o baque foi muito maior. Muitas dúvidas apareceram e mudou a maneira como eu vejo a vida. Vivo um dia após o outro, focada nos meus 3 filhos e tento não pensar muito e me preocupar com o dia de amanhã”, ela conta.

Engana-se quem pensa que esse tipo de abordagem só acontece quando o paciente já está em fase final de vida. “Estudos mostram que a indicação de cuidados paliativos já no momento do diagnóstico da doença tem um impacto muito maior na qualidade de vida do paciente, diminuindo o índice de depressão, ansiedade dos pacientes e burnout dos cuidadores. Quanto antes, melhor”, esclarece Drª Sarah Ananda. Em muitos casos, o tratamento convencional e o cuidado paliativo acontecem simultaneamente, visando apenas ao manejo de sintomas que são difíceis de controlar.  À medida que a doença avança, a abordagem paliativa passa a ocupar mais espaço na rotina do paciente e de seus familiares.

 

 

 

 

 

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